terça-feira, 30 de abril de 2024




FUGA

Depois da chuva, o sol desponta no horizonte.
A calmaria de uma tímida manhã
É interrompida por tiros ensurdecedores
Disparados por alguns homens
De dentro de um carro
Que passou em alta velocidade.
Pânico a seguir de fuga;
Encostando-me em um muro, ando apressada,
Tentando não ser vista.
De repente a calçada parece menor
Sinto-me espremida pelos muros
Ando rápido sem olhar para trás;
A rua se fecha em túnel.
Parece não haver saída
Olhando para o alto tento ver o céu,
Mas que céu? Não há céu!
Vejo apenas uma cavidade escura
Coberta por um manto negro
E sem opção me envolvo neste manto
Tentado me esconder
Mas, me esconder de que?
Se nem os tiros ouço mais.
E como se mágica fosse
O manto negro se abre
E me vejo em meio a um fio de claridade
Num instante um pesadelo
Que em sonho se transforma
E parece real.
Uma nova terra surge
Uma densa floresta em meio á montanha,
Posso ver e sentir o cheiro da terra úmida
Pela chuva mansa que cai suavemente;
Levo meu olhar ao longe
Mas pouco posso ver
Pois as árvores
Começam a se esconder
Na bruma que se aproxima.
Ando nas trilhas encontradas
Que não me levam a lugar algum
E cansada me ponho a reclamar.
Depois de muito andar cheguei a uma casa
Que mais parecia ter saído
De um conto de fadas
Tão acolhedora e quente
Com móveis antigos e mesa de cristal.
E ando por toda casa, procurando à saída.
E ainda sem paciência
Continuo a reclamar.
Uma voz mansa me chama;
Parecendo fada de tão bonita à senhora.
Com um gesto feito
Com indicador na frente da boca
Pede para eu me calar
Oferece-me bolinhos de arroz
E caminha ao meu lado em silêncio.
Já não reclamo nem murmuro,
Apenas ouço o silêncio daquele lugar;
E cansada de procurar a saída
Eis que surge um senhor
De barba e cabelos brancos;
E mais calma posso admirar
O sorriso doce de um ancião,
Que calmamente estende-me a mão,
Anunciando à saída.
E logo vejo a minha frente
Uma porta frágil
Com vidraças limpas
Generosamente aberta.
A bruma continua
Mas já posso ver à saída
E num sonho perfumado
Subo a montanha;
Do alto,
Avisto o mar, a cidade ao longe,
Ainda sigo a trilha,
Agora coberta
Por pétalas de rosas vermelhas
Ainda não está bem claro
Não vejo o mar tão azul
Mas, no horizonte já está brotando o sol
E logo um arco-íris começa a surgir.

Lili Ribeiro

segunda-feira, 25 de dezembro de 2023

Anna Beatriz

Anna Beatriz

A namoradinha da família
Nana neném a todo instante
Nascida nesta casa
A nossa vida encantou

Belíssima,
E charmosinha
Aninha
Toda é prosa
Risonha e rosinha
Inquieta e gulosinha
Zangadinha, mas gostosinha!

Lili Ribeiro

05/06/06

A Mais Pura Ilusão

A mais pura ilusão semeada ao chão.
Um chão socado, cansado e infértil.
Qual pedra no meio do oceano
Que dura permanece inerte
Mesmo assim 

 Recebe a maresia fresca.
Que vem do mar.
Tal qual é o amor que tenho por ti
Que jorra frescor em brisas

Acariciando o seu coração
Com as mais macias mãos
Feito plumas ao vento
Pois tu não as vês nem as sente

Pobre de ti
Que ao acaso se derrama feito sombra em minha vida
Pois não o terei mais como coisa real ou irreal
Jamais voltarei a vê-lo como coisa alguma

Quanto mais merecedor do amor
Que farto te dou.
Ignoras um sonho
Imprudente criança

Ao acordares não estarei mais em seu mundo.
E enlutado chorarás
A perda irreparável do ser que te ama
E soma-te a tudo que é belo

Mas, hoje chegou a tua hora final
Tarde demais
As pedras não amam
Não sofrem não tem sede nem fome

Afogadas ao mar
Aniquiladas ao sol
Não me importo em que estado estarás
Dentro em pouco
Sinto,

Me liberto de ti.

Lili Ribeiro

Análise





Já não somos mais crianças


e a inocência não nos acompanha.


Labirintos obscuros e tramas.


Ainda nos perseguem.



Das brincadeiras de crianças


Restam poucas lembranças.


Tranças, bonecas, as bolinhas de gudes...


Goma de mascar, bala Juquinha...


Juro! Queria que o tempo voltasse.



E o que tenho?


O que aprendi com o futuro já vivido?


Não sei. Não sei!



Os dias continuam passando


E com o tempo


Somo as horas mortas que não voltam.



Penso, repenso e nada!


Nada de novo se apresenta.



Ansiedade me vem.


afasto-me da vida


mas ela chega-me em breves lembranças


Enfumaçadas nuances...



O tempo. Senhor da razão.


Será?


“Alzheimer” um vazio...


A solidão...


que segue apagando a


-vida-


E do passado


Certo ou errado.


Quem se importa?


A ninguém interessa.



A felicidade


Hoje é só um engano.


Dela, nem saudade.



Lili Ribeiro






A Vida em Preto e Branco

Todo dia acontece sempre igual: não tem magia, não tem sonhos, apenas o amanhecer e um dia inteiro pra sofrer, chorar, chorar e calar.
De um lado a outro, pedindo, andando, sentando, levantando e chorando. - Não. Hoje não. Não tenho!
E um outro, nem resposta. Desviam seus olhos e atravessam a rua, mas lá também tem outro. Desviam-se, passam bem longe.
De algum lugar alguém os observa com olhos de ambição, tomando deles o que não conseguiram 
- Pega essa criança, vai pra outra esquina. A resposta é vazia:
- Mas, lá já estive e nada consegui! E novamente a ordem:
- Volta, você tem que conseguir! 
Com uma camiseta furada e chinelos gastos, arrasta uma criança despenteada pela mão. Mão da mãe que mora nas ruas e não pode dar-lhe nem o pão.
“Mãe e filhas são conduzidas por um inescrupuloso homem que as leva de um lado á outro e ao findar o dia, tira quase tudo do quase nada que elas ganharam”.
Mais uma vez à noite chega. Por companhia, apenas seus anêmicos vizinhos, que juntos, moram sozinhos a margem da estrada. Dormem ao relento fazendo dos jornais, seus lençóis; embriagados, até os pequenos. E a cola é pouca pra tantos que a cheiram, embriagam seus cérebros pra não sentirem fome nem o frio que os consomem.
Pra não dizer que tudo é tristeza, pode-se acordar mais cedo ou não dormir. podem ver a aurora surgir. Trazendo a cada dia um espetáculo novo quase sempre carminado nas ruas mortas das grandes cidades.
Mais um dia começa, e com ele começa também a corrida da fome e a luta pelo ópio pra entorpecer à mente e morrer lentamente.
A única vantagem que eles têm é ver um pôr- do- sol diferente a cada entardecer e o raiar de um novo dia, contemplado assim o amanhecer, sempre pela aurora que os visita.
Mas, de que adianta?
Eles não sabem fazer poesia!

Lili Ribeiro

Estrela menina


Estrela menina

Um punhado de estrelas saltitantes enfeita o céu
Um brilho suave burlando a noite
E vim buscar as uvas os doces os chocolates.

Da vida só o prazer e não mais a dor
Um hino suave, uma poesia cantada
Um charme a mais no meu andar de menina madura.

Sou forte, sou lua sou menina e as vezes me perco pelas ruas.
Hora de voltar... Pra que?
Sou assim.

Um pouco levada
Pelos poetas, invejada.
Sorriso farto, vestido largo... Não rejeito um afago
Mas nada que seja exagerado.

Sou menina ainda.
Nada de compromisso, por enquanto só os suspiros.
E se um dia sair da adolescência
Que seja pra ser mulher
Nunca uma coisa qualquer como a maioria dos homens querem.

Ah! Se o tempo parasse e de novo eu voltasse seria pra rir e nunca mais chorar.
Hoje sou assim, facho de luz, estrela assanhada e saltitante
Perdida nesse imenso céu.

Com meu brilho suave vou burlando à noite
Cantando a vida e celebrando a liberdade.
Liberdade! Quanto te quero de verdade.
Lili Ribeiro

Cigana


Andar nas trilhas
Colher flores do campo
juro!
Queria novamente correr por lá.
Sentir o vento batendo em meu rosto
Ser menina feito moça
E encantada com a vida tecer amores.

Mas o tempo não para e parar pra pensar
Nem pensar.
Ficou distante esse tempo.
Um ano a mais e muitos outros ficaram para trás.

Tropeço nas peças que a vida me trouxe.
Juro!
Queria que o tempo voltasse
E que de novo encontrasse
aquela menina de sonho encantado
de cabelos encaracolados
com cheiro de relva
e poeira nos pés.

Ao olhar para o céu
sinto um pouquinho de medo do tempo que me resta a percorrer
Mas tudo hoje é tão rápido se não prestar atenção, não sentirei a chegada.
ou já cheguei?

Lili Ribeiro